AS EXATAS CINCO HORAS DA MANHA
O ILUMINAR DO SOL NÃO EXISTE.
O BOCEJO QUE ATACA SE ALIA A PREGUIÇA
E TENTA EMBAÇAR OS LADILHOS DOS MEUS OLHOS
E DAR-ME O DESCANÇO QUE MINH'ALMA NECESSITA
PORÉM ALGO DESGASTANTE
E ATENUANTE ME ESPERA:
O LIXO QUE ME ALIMENTA !
VISTO AS ARMADURAS E SEM ESPERANÇA
E SEM AMOR E SEM ORGULHO
TRAÇO PASSOS PEQUENOS DE UM FRANZINO CORPO
QUE SE DIRIGE AO SUPREMO REI DA AMÉRICA LATINA:
O LIXÃO DE GRAMACHO !
A VIAJE QUE ME LOCOMOVE
ME FAZ SENTIR O VENTO
QUE ME EMPOLA A PELE
E ME FECHA OS OLHOS . . .
DE REPENTE SINTO COM A ALMA GELADA
UM TREMOR VAZIO AFLORADO A UM SOLIDÃO
QUE ME TOCA O PEITO
E ME TRAZ O PRANTO
LOGO ESQUEÇO DA INFANTE-INOCÊNCIA
E ENTRE CARDOS E ABROLHOS
LANÇO-ME A MÁQUINA DO TEMPO
A GERAR MINHA TRANSFORMAÇÃO
ASSUMO MINHA NOVA FIBRA
E AO LADO DE MINHA BARRICA
MINHA FIEL COMPANHEIRA
COLHO O QUE ME SUSTENTA
P'RA RECICLAR VIDA EM MIM.
SE EU PUDESSE COLHER-TE ESPERANÇA
NOS ARREDORES DESSE TERRENO !
OU TRAZER-TE Ó ORGULHO
O DESEJO QUE ESPERAS P'RA VENCER . . .
AO SENTAR-ME NO CHÃO
OS OLHOS ME DÃO A VISÃO
UM CORAÇÃO PALPITANTE
QUE SOBREVIVEU A FLECHAS, SUPORTOU PERDAS
E GRITOU ALTO . . .
JA TRAZIDO Á TONA
BUSQUEI ELIMINAR MINHAS FORÇAS
TRANCAFIAR-ME AO MEDO
E SIMULAR MINHA MORTE . . .
ALGO DIFERENTE ARREBATOU-ME
ALGO POR DENTRO ME AFLIGIU
MAS NÃO ME DEIXOU DESISTIR
SEI QUE EXISTE ARADO !
EU JA SINTO OS HOLOFOTES !
OS FARÓIS QUE ILUMINAM
A JAZIDA DE PODRIDÃO !
MAS ELE NÃO VEM
E A FOME APERTA
E AS MÃOS SE ESVAZIAM
E OS MEUS SENTIDOS SE CONFRONTAM . . .
ESTOU FORA DO PRUMO
NOS MEADOS DO FIM
BUSCANDO-TE DEUS
PARA QUE ME VEJAS.
GRAÇAS PAI !
MINHAS MÃOS COMTEMPLAM O OURO !
UM RASPE NA SUPERFÍCIE
E UM DEGUSTE ACELERADO . . .
VALEU APENA !
NÃO BUSCO SAÚDE
E POUCO ME IMPORTA MORRER
E NOS BRAÇOS DA SOLIDÃO
ENCHO AOS POUCOS O VENTRE
E MORRO PREEENCHIDO.
um breve relato das crianças e adolescentes q "sobem a rampa"(lixão) pra se sustentarem
criancas q saem de madrugada em busca de condiçoes de trabalho ou de alimento
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